Desde o inicio da pandemia a comunidade médica trabalha em conjunto com grande esforço em meio à sobrecarga. São diversas frentes para mitigar o sofrimento dos pacientes, obter diagnósticos e melhorar as informações que são úteis na elaboração de planos de contenção e de gradual folga no isolamento social. O número de pessoas contaminadas e a localização delas são a base das estratégias de isolamento e contenção. Uma grande demanda por testes, do tipo rápido e do tipo molecular, é o desafio de todos os países afetados pela COVID-19. Contudo, a obtenção de reagentes básicos para os testes de diagnóstico molecular da COVID-19 é um desafio maior no combate à epidemia no Brasil, alertam os grupos de pesquisadores da Universidade de São Paulo, um dos centros de excelência envolvidos .

No momento, há uma enorme demanda mundial para a aquisição dos insumos necessários ao teste de PCR em tempo real para a detecção da COVID-19. Existem poucos fornecedores, todos do exterior, que priorizam a entrega de insumos para os mercados americano e europeu. Espera-se que a negociação em bloco para a aquisição de insumos pelas secretarias estaduais de saúde facilitem as negociações com os fornecedores.

Os testes moleculares se baseiam na detecção, por reação de PCR em tempo real, do material genético do vírus e, consequentemente, permitem a identificação de indivíduos portadores do vírus. Essa informação é crucial, particularmente neste momento, para o enfrentamento da epidemia, pois permite, em detalhe:

  1. A identificação de indivíduos infectados sintomáticos. Isso permite que eles recebam o tratamento adequado e as precauções necessárias para evitar a disseminação da infecção, particularmente, no ambiente hospitalar;
  2. A identificação de indivíduos infectados assintomáticos. Desta maneira, pessoas que contraíram o vírus, mas não apresentam sintomas, sejam identificadas e encaminhadas para isolamento evitando, dessa forma, o espalhamento da infecção;
  3. O monitoramento da infecção em funcionários de saúde em hospitais e unidades de pronto atendimento;
  4. No caso de óbito, o exame possibilita a confirmação da infecção pelo coronavírus e, com isso, auxilia parentes nas precauções a serem tomadas para o enterro.

TESTES RÁPIDOS

Já os chamados “testes rápidos”, que estão sendo comprados pelo Ministério da Saúde, e com uma aposta de sangue conseguem um resultado em até 30 minutos, identificam apenas a presença de anticorpos no sangue do paciente, e não o próprio coronavírus. Ou seja, eles detectam uma resposta imunológica que já foi montada pelo organismo da pessoa após a exposição ao vírus. Essa resposta só surge alguns dias após a infecção (num período que pode variar de 7 a 10 dias após a infecção, dependendo do paciente e da sensibilidade do teste); o que significa que, para a maioria dos que tiverem resultado positivo, já não haverá mais riscos de transmissão do vírus para outras pessoas. Uma boa notícia para o examinado, mas menos eficaz nas estratégias sanitárias em larga escala.

 

Componentes do teste rápido, que identifica a resposta imunológica do organismo ao coronavírus.

“A resposta imunológica é uma informação epidemiológica importante, mas que não ajuda a combater a epidemia”, diz Luís Carlos Ferreira, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). “A grande maioria das pessoas que testarem como positivo já não terão mais o vírus.”

TRATAMENTO A PARTIR DO PLASMA

Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de um produto composto por anticorpos para combater o novo coronavírus (SARS-CoV-2). Os anticorpos monoclonais neutralizantes, como são chamados, serão selecionados de células de defesa (células B) do sangue de pessoas que se curaram da COVID-19. A ideia é encontrar uma ou mais dessas proteínas com a capacidade de se ligar ao vírus com eficiência e neutralizá-lo. As moléculas mais promissoras poderão, então, ser produzidas em larga escala e usadas no tratamento da doença.

O trabalho segue um princípio parecido com o da transferência passiva de imunidade – técnica que consiste na transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas da COVID-19. O plasma – parte líquida do sangue – de pessoas que se curaram da COVID-19 é naturalmente rico em anticorpos contra a doença. Ao entrar na corrente sanguínea de uma pessoa doente, essas proteínas começam imediatamente a combater o novo coronavírus.

Com o sangue coletado dos voluntários, os pesquisadores realizarão uma série de processos de biologia molecular a fim de identificar, nos linfócitos B, as sequências de genes que expressam os anticorpos neutralizantes. Cada anticorpo será então caracterizado quanto à sua ação perante o vírus, como capacidade de ligação, especificidade e afinidade, reatividade cruzada com outros anticorpos e capacidade de neutralização. Identificados os genes, a etapa seguinte consiste na transfecção dos que produzem os anticorpos mais promissores em células para gerar as linhagens recombinantes permanentes. No desenvolvimento da linhagem celular, são produzidos muitos clones, que são isolados, caracterizados quanto às propriedades celulares (crescimento, viabilidade, produtividade) e do anticorpo expresso pela ação esperada (ligação, afinidade, capacidade de neutralização). Os resultados são levados em consideração para selecionar os melhores clones, que podem ser produzidos em larga escala num biorreator para, então, serem levados aos ensaios pré-clínicos e clínicos.

Etapas aplicadas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

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