Nas últimas semanas o estado de São Paulo, que reúne a maior quantidade de pessoas contaminadas pelo Sars-CoV-2, divulgou os critérios para que, o isolamento social passe a ser mais brando nos seus 645 municípios. Enquanto isso, o aumento de casos no Amazonas parece ter atingido o pico da curva e mais cidades se preparam com protocolos para tentarem retomar as atividades nos próximos meses. 
No entanto, a COVID-19 já fez 36 mil vítimas fatais em todo o Brasil e cobriu de tristeza as famílias que não puderam realizar cerimônias de despedida para seus entes. Com a recomendação sanitária de não haver aglomerações, templo religiosos permaneceram fechados e mesmo velórios nos sepultamentos foram muito restritos por conta da possível contaminação pelo Sars-CoV-2. Assimilar o falecimento de um amigo ou parente é ainda mais difícil em um cenário como esse, que não permite o encontro com outros conhecidos para tornar menos triste o processo de luto. Além disso, infelizmente, com número tão elevado de falecimentos, a partida de familiares assume certo papel de “estatística“, que apesar de importar como dado objetivo no entendimento da pandemia, deixa escapar a humanidade das vibrantes vidas de pessoas que amaram e foram amadas.

CONSCIÊNCIA DA MORTE

“O luto é uma tarefa psicológica que nós vivenciamos diante de uma perda”, explica a psicóloga Célia Maria, da Universidade de Brasília. Nesse contexto, as cerimônias são parte de um processo de tomada da consciência da morte, e a falta de rituais dificultam assimilar essa perda. Sem abraços, sem a despedida, o luto torna-se mais difícil, com mais tempo de sofrimento, até encadeando traumas. Para a doutora Célia Maria, a recomendação em situações assim, é que os mais chegados criem rituais que celebrem essa ausência. Algo como um espaço de memórias, uma reunião virtual que relembre quem partiu, um momento conjunto de prece, algo que forneça para a família uma ligação que pontue a despedida, porque não é possível tocar a vida como se não tivesse acontecido nada.

Algumas iniciativas também caminham nessa direção. É o caso do Projeto Inumeráveis (foto acima), uma plataforma online que pretende transcender a estatística, colocando em primeiro plano as histórias de vida das milhares de pessoas vitimadas pela COVID-19.

Ali no site estão versos, depoimentos e crônicas que descrevem homens e mulheres falecidos pela doença. O trabalho é realizado a partir de depoimentos enviados por parentes das vítimas, ou de entrevista realizadas com eles por jornalistas voluntários do projeto. Navegar pelos nomes dessas muitas pessoas – todos dispostos em ordem alfabética no website – é conhecer um pouco dos gostos, das qualidades, da vida daqueles que não estão mais aqui, mas que deixam sua marca e não são meros números.

HOMENAGEM NA INGLATERRA

Em Londres, uma demonstração de respeito e carinho como essa, de uma mulher que resolveu homenagear sua irmã falecida gravando um poema no Youtube, se tornou viral. Dorothy Duff criou um texto de saudade chamado Minha Irmã Não é uma Estatística e emocionou o mundo. Para lembrar-se de Rose Mitchell, ela colocou o poema na internet e estimulou mais parentes a fazerem o mesmo por seus amados familiares.

TRABALHO VOLUNTÁRIO

No Brasil, um serviço telefônico realizado por psicólogos voluntários recebe o desabafo de centenas de pessoas enlutadas ou que precisam de um socorro emocional relacionado à dores em consequência da COVID-19. Esse trabalho do Instituto Entrelaços já recebeu mais de 600 ligações e conta com 150 profissionais para fazerem o atendimento em esquema de plantão, contou a reportagem do jornal Folha de São Paulo.

É muito importante que pessoas que perderam alguém não se sintam sozinhas, mesmo na condição do isolamento social que a sociedade enfrenta. Seja por mídias virtuais ou ligações telefônicas tocar o coração abrevia a distância física, supera inseguranças e restaura a esperança.

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