Neste 8 de março o mundo rende homenagens para o Dia Internacional da Mulher. A data que ganha destaque na mídia deixa em evidência o que é preciso fazer pela equidade de gênero, pela luta contra o feminicídio e pela valorização das mulheres no setor profissional.

Na saúde, As mulheres são a principal força de trabalho, representando, segundo o Censo, 65% dos mais de seis milhões de profissionais ocupados no setor público e privado, tanto nas atividades diretas de assistência em hospitais, quanto na Atenção Básica. Em algumas carreiras, como Fonoaudiologia, Nutrição e Serviço Social, elas alcançam quase a totalidade, ultrapassando 90% de participação. Em outras, como Enfermagem e Psicologia, estão com percentuais acima de 80%. 

Contudo, em situação de pandemia nos últimos dois anos, a desigualdade entre homens e mulheres ficou ainda mais evidente. Seja por causa de dificuldades específicas enfrentadas por essas profissionais no contexto da pandemia, seja pelo estrutural machismo da sociedade.

As relações de gênero atravessam todas as dimensões da vida social, possuem dinâmica própria independente de outros processos sociais e são marcadas pelo antagonismo na relação de dominação das mulheres pelos homens. Isso ocorre pelos salários inferiores para as mesmas funções e pela dupla jornada, representada pelo trabalho doméstico ou pelas tarefas de cuidado destinado a membros da família das quais invariavelmente são as mulheres que se ocupam.

Segundo dados do IBGE, as mulheres dedicam 21,3 horas por semana com afazeres domésticos e cuidado de pessoas – quase o dobro da dedicação dos homens às mesmas tarefas (10,9 horas).

No Brasil, há quatorze profissões regulamentadas para atuação na área da saúde: Serviço Social, Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Técnicos em Radiologia. Todos os profissionais dessas formações foram convocados à participação em ações estratégicas de combate à Covid-19, por meio da Portaria 639/2020, do Ministério da Saúde, que estabelece critérios de seleção e solicita a mediação dos respectivos conselhos profissionais.

Além dessas profissões organizadas em conselhos de classe, o funcionamento das unidades de saúde requer o trabalho de outros profissionais que executam tarefas essenciais, tais como recepcionistas, atendentes e profissionais de limpeza. Para essas ocupações, inexistem dados sistematizados que permitam aferir objetivamente as condições de trabalho e os vieses de gênero das áreas de apoio ao funcionamento das unidades de saúde. Considerando essas categorias, a força de trabalho feminina corresponde afinal a 78,9% da força de trabalho total na área de saúde.

COVID-19

Sendo a maioria dos profissionais de saúde, as mulheres estão na linha de frente do combate à Covid-19, diretamente envolvidas nos procedimentos de cuidado aos indivíduos e, portanto, mais expostas não só a riscos aumentados de contaminação, mas, também, aos demais riscos ocupacionais. Esses incluem, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), excesso de horas trabalhadas, sofrimento psíquico, fadiga, “burnout”, estigmatização e violência física e psicológica, que podem ser amplificados por dinâmicas de gênero. Dados preliminares da Itália e da Espanha mostram que a maioria dos profissionais de saúde desses países infectados pela Covid-19 são mulheres: respectivamente, 66% e 72%

A pandemia da Covid-19 evidenciou dinâmicas de desigualdade que não poderão ser ignoradas. Os rearranjos nacionais e globais pós-Covid-19 implicarão no desenho – ou no redesenho – de novas funções para o Estado, entre elas a de reduzir desigualdades. O reconhecimento da participação da força de trabalho feminina na produção da riqueza e do bem-estar social é parte integrante disso. Para que estas estratégias sejam abrangentes e eficazes, é necessário que as próprias mulheres estejam engajadas em sua criação, sejam beneficiárias prioritárias e protagonistas na construção de soluções a longo prazo.

Para emergências:        +55 21 3262-0100