Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, aproveitamos para homenagear a força feminina e também propor reflexões sobre a diferença de privilégios que ainda separa homens das mulheres. No campo da saúde não é diferente da política ou dos esportes, há diferenças salariais para serem alcançadas e preconceitos a serem vencidos.
Só em 1847, na Suíça, a primeira médica do mundo foi reconhecida. Após ser recusada 12 vezes, Elizabeth Blackwell foi admitida na universidade Geneva Medical College e, embora tenha sido impedida de fazer demonstrações médicas em sala de aula por um tempo – prática considerada inadequada para uma mulher -, ela fez história e abriu as portas para que outras seguissem o caminho da medicina.
Hoje, as mulheres são a principal força de trabalho da saúde. No Brasil, elas representam 65% dos mais de 6 milhões de profissionais no setor público e privado. Segundo o Censo do IBGE, em algumas carreiras, como fonoaudiologia, nutrição e serviço social, elas alcançam quase a totalidade dos cargos, ultrapassando até 90% de participação. Em outras, como enfermagem e psicologia, esse índice passa de 80%. É fato que há aqui uma construção social que secundariza a participação da mulher no trabalho e na economia. Além de uma imposição de “sentimento maternal”, que faz crer que a prática do cuidado é mais natural às mulheres que aos homens. As mulheres carregam o ato de cuidar, mas também precisam de valorização e apoio.
Nos EUA, elas são 80% da força de trabalho na saúde e 90% dos profissionais de enfermagem registrados, porém ocupam somente 40% dos cargos executivos. Nos países asiáticos como Coréia e Japão, elas são apenas 20% do total de médicos, enquanto na Estônia e Letônia representam cerca de 70% dos profissionais de medicina.
Conforme divulgado num artigo do IntraHealth International de 2017, numa amostra de 123 países, as mulheres no setor de saúde e social representavam 67% das vagas ocupadas.
Principalmente durante a pandemia de Covid-19, ficou clara a predominância feminina na linha de frente do enfrentamento à crise sanitária. De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em nível global, cerca de 70% das equipes de trabalho em saúde e serviço social são compostas por profissionais do sexo feminino, incluindo – além de médicas -, enfermeiras, parteiras e trabalhadoras de saúde da comunidade.
Embora as mulheres tenham conquistado seus espaços, no alto escalão a desigualdade de gênero é mais visível: apenas 20% do comitê de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) e apenas um quarto dos decisores nos governos centrais são mulheres, aponta um estudo realizado em 30 países pelo grupo Women Deliver, de Nova York, em parceria com a organização francesa de pesquisa Focus 30.
Já no Brasil, uma pesquisa do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), publicada pela revista “British Medical Journal”, mostra que quase 80% das mulheres médicas estão concentradas nas categorias salariais mais baixas, enquanto 51% dos homens médicos estão nas categorias mais altas. O estudo também revela que, no setor, os especialistas homens tendem a ocupar posições de liderança com mais frequência do que profissionais mulheres.