A Classificação Internacional de Doenças, chamada CID, é um conjunto de 55 mil códigos utilizados por profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas públicas que constantemente passa por atualizações. Esses códigos são uteis na prática para definir a causa da morte – o que levou a pessoa ao óbito. Por exemplo, o príncipe Philipe da Inglaterra, morto aos 99 anos, teve a causa da morte registrada como “idade avançada”, segundo o atestado assinado pela equipe médica que cuida da família real britânica. Mas semanas antes da morte, o príncipe havia sido submetido a uma cirurgia cardíaca. “Declaração de óbitos é uma fonte importante de conhecimento de saúde. Seria um risco se começassem a colocar lá que a pessoa morreu de velhice. A gente perderia o controle de quantos tinham Parkinson de quantos morreram Alzheimer, informações muito importantes para o planejamento de políticas públicas”, diz o geriatra Marco Túlio Cintra, vice-presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), para o jornal Folha de São Paulo.
Esta polêmica é um caso específico que novamente inflamou a comunidade médico-científica para pressionar a OMS a não mudar o código de senilidade, quando a décima-primeira revisão da CID entrar em vigor no próximo ano. É que geriatras e cientistas avaliam que seria temeroso colocar velhice como uma doença. A proposta era substituir o termo senilidade (código R-54), que já existe na CID, por “velhice sem menção de psicose; senescência sem menção de psicose; debilidade senil” (MG2A). A sugestão agora é que o texto do código seja “declínio da capacidade intrínseca associado ao envelhecimento”. É que ao relacionar velhice à doença, a nova classificação poderia ser usada para negligenciar os diagnósticos de doenças nos mais velhos, impedir o registro correto das causas de mortes e ainda aumentar a discriminação contra a população idosa.
Com a nova fórmula que deve entrar em vigor, dependendo de últimos detalhes em discussão no âmbito da OMS, a velhice entrará como possível fator associado à causa de uma morte, por exemplo, e não mais como a causa definida e assim registrada no diagnóstico médico. “Seria um grande retrocesso” a classificação de velhice como doença, disse ao Portal Longevinews Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade e que já dirigiu o programa de envelhecimento da OMS.
No Brasil, 3 em cada 4 mortes ocorrem a partir dos 60 anos. São desfechos de doenças cardiovasculares, oncológicas neurológicas. Para o médico Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, seguindo o entendimento do código proposto anteriormente, todos os óbitos futuros dessa faixa etária poderiam ter a causa catalogada como velhice.
Em âmbito internacional, a posição contrária à classificação de velhice como doença vem sendo sustentada por movimentos como o #Stopidadismo, de âmbito iberoamericano. A Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria (IAGG, na sigla em inglês) também se posicionou contra a classificação.
Recentemente a Academia Latinoamericana de Medicina del Adulto Mayor também se posicionou, defendendo a revisão da classificação. Um artigo a respeito foi publicado no site da própria Organização Panamericana da Saúde (OPAS).