A pergunta roda: como será o futuro? Qual mudança terá o hospital do amanhã? Em seminários e nas conversas do mercado se deseja saber como os negócios serão afetados e como se preparar para a sustentabilidade economia pós-COVID. Um curta-metragem de 12 minutos chamado o Hospital do Futuro (que estreia na Bienal de Veneza esta semana) jogou algumas luzes para essa intrincada charada e entrevistas com urbanistas e o diretor do Hospital Alemão Oswaldo Cruz nos fornecem algumas outras pistas, que trazemos abaixo.
“The Hospital of the Future” é um manifesto visual produzido pelo escritório de arquitetura OMA / Reinier de Graaf, que questiona antigas convenções de saúde em termos de construção e metodologia. Para o site archdaily, o filme feito em 2019 “explora a ideia de que o hospital do futuro poderá se adaptar a uma variedade de necessidades, ao passo que se mostra como uma tipologia autossuficiente. Poderá ser onipresente e de alta tecnologia, operar como um centro de distribuição, reconstruir-se a partir de seus próprios resíduos, cultivar seus próprios medicamentos e tornar-se totalmente automatizado.” O prestigiado escritório OMA foi contratado para fazer hospitais na França e no Quatar e como parte de sua pesquisa encampou esse filme que concentra suas investigações. Elas levantam questões vitais sobre espaço, automação e saúde.
Sua conclusão é que os hospitais precisam estar em constante mudança, pois no minuto que são projetados, todo o resto da medicina já está evoluindo e, ao final da obra, um hospital recém entregue já é obsoleto. O projeto precisa, dessa forma, ser erguido para estar constantemente em evolução. Hospital of the Future faz um exercício de criatividade e para que hospitais sejam autossuficientes, cita a possiblidade de fazendas urbanas para garantir o abastecimento de remédios essenciais.
URBANISMO NOS HOSPITAIS BRASILEIROS
Uma reportagem do jornal Estadão no começo de maio entrevistou urbanistas que corroboram a urgência de mudanças estruturais nos hospitais. Para Jeferson Tavares, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP, hospitais de hoje em dia “não criam uma relação direta e integrada com o entorno, e os bairros não absorvem adequadamente impactos que os hospitais criam.” Ele cita a falta de áreas de lazer, áreas verdes e acessibilidade. Essa relação com o meio ambiente também é uma preocupação de Mauro Santos, urbanista da UFRJ, citado no artigo. Para ele, o lobby dos prédios e áreas de estar poderiam aproveitar melhor a ventilação e a iluminação natural: “Traz benefício efetivo no processo terapêutico, dá tranquilidade ao paciente”.
MODELO DE REMUNERAÇÃO
O médico especializado em administração José Marcelo de Oliveira, conhecido por Jota, assumirá como o novo diretor-presidente do Hospital Alemão Oswaldo Cruz em junho e tem um visão que também dialoga com o novo “hospital do futuro” a respeito de automação.
Ao jornal Folha de São Paulo, ele disse que uma evolução do modelo de cuidado são as ferramentas digitais, por exemplo, reabilitação por meio remoto: “Têm baixo custo, o paciente pode fazer num momento de maior flexibilidade para ele. Tendo essa interação, o indivíduo se engaja mais no tratamento, e a chave da recuperação plena é o indivíduo fazer a parte dele”. O Hospital Alemão Oswaldo Cruz também realiza exames e consultas no domicílio, além de ter avançado bastante o uso da telemedicina, especialmente nas consultas para avaliação de sintomas e triagem para identificar casos de maior gravidade.
Sobre novos modelos de remuneração, ele relata como tem usado o conceito de pacotes, com previsibilidade: “Se aquele paciente consumiu mais ou menos, o custo do serviço já está contratado e combinado. Se o hospital for além do custo, ele tem que assumir parte dele. Se for mais eficiente, ele tem uma margem um pouco maior. Um risco compensa o outro e, num volume grande, tem benefício para os dois stakeholders“. Atualmente, o Hospital Oswaldo Cruz tem 538 leitos e receita de 852 milhões de reais.