Desde 2014, o mês de agosto ganhou cor em prol da conscientização da doença autoimune que mais acomete jovens adultos em todo o mundo, são 2,5 milhões de pessoas: a esclerose múltipla. O Agosto Laranja foi criado pela AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose com o objetivo de ser um movimento coletivo para desmistificar essa condição crônica de doença e fomentar o diagnóstico precoce, mais qualidade de vida, acolhimento, respeito e dignidade para quem convive com a doença, seus amigos e familiares. No Brasil, estudos mostram que existem cerca de 35 mil pessoas com a doença (ou 15 pacientes para cada 100 mil habitantes)

Esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica, autoimune, desmielinizante, inflamatória, que afeta o sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal).

Isso significa que o nosso sistema imunológico, responsável por combater agentes externos como vírus e bactérias, ataca a bainha de mielina dos neurônios (por isso desmielinizante). Essa bainha de mielina funciona como a capa de um fio elétrico (um condutor, mas também age na manutenção do neurônio) que, quando perdida, acaba gerando dano na função do neurônio.

A EM causa um processo inflamatório, que atinge diversas partes do sistema nervoso central, ocasionando sintomas diversos, dependendo da área acometida. É uma doença que, quando não tratada, tem como características principais a disseminação no tempo, ou seja, a pessoa apresenta sintomas de piora em diferentes momentos da vida, como ondas; e disseminação no espaço, apresenta inflamações atingindo diferentes áreas do cérebro e medula espinhal (sistema nervoso central). O curso clínico é, na grande maioria das vezes, caracterizado por períodos de crises (os chamados surtos) seguido por períodos de remissão/recuperação. A condição atinge geralmente pessoas jovens entre 20 e 40 anos de idade, sendo mais predominante em mulheres.

TIPOS DE EM

A EM têm duas formas clínicas inicias de apresentação. A forma clínica remitente-recorrente (EMRR) é a forma mais frequente, correspondendo a cerca de 85% dos casos. Nessa forma, a pessoa apresenta um surto (sintoma neurológico novo) que pode se manifestar por algum período de tempo, apresentando melhora completa ou parcial, seguido por um período de remissão em que a paciente não apresenta novos sintomas.

Na forma primariamente progressiva (EMPP) ocorre acúmulo de incapacidade lenta e contínua desde o início dos sintomas. Essa forma acomete até 15 % dos pacientes. Atualmente a forma progressiva pode ser classificada como progressiva com sinais de atividade inflamatória, ou inativa, sem sinais de atividade inflamatória. Muitas pessoas, que iniciam o quadro como forma remitente-recorrente podem apresentar, após cerca de 15 anos de surtos e remissão, uma evolução, com sinais persistentes e progressivos de disfunção do sistema nervoso central (SNC), indicando o início da forma secundariamente progressiva (EMSP).

CAUSAS DA DOENÇA

A causa da doença ainda não está totalmente conhecida, porém, sabe-se que múltiplos fatores ambientais e genéticos estão associados a fisiopatologia da doença. Dentre os fatores ambientais associados a etiologia da Esclerose Múltipla, temos a infecção por alguns agentes virais e bacterianos, como o herpesvírus tipo 6, vírus Epstein-Barr, retrovírus endógeno humano.

A imaturidade do sistema imunológico devido a menor exposição a agentes bacterianos e parasitas durante a infância também é um fator ambiental fortemente associado ao aparecimento de doenças autoimunes, incluindo a Esclerose Múltipla. Os baixos níveis sanguíneos de vitamina D, devido a menor exposição solar, obesidade e o tabagismo também são fatores ambientais ligados aos riscos da doença.

Dentre fatores genéticos, os genes em que foram encontrados alguma relação associada ao surgimento da doença são os ligados ao funcionamento e ativação do sistema imune inato e adaptativo como HLA, DRB1 e DQB1 entre outros. Existem mais de 100 genes que conferem aumento de risco para EM e cada um isoladamente com aumento de chances de 1% a 6%, por isso grande variação individual.

QUAIS OS SINTOMAS?

A EM é uma doença heterogênea, podendo ocasionar diversos sintomas neurológicos a depender da área do sistema nervoso acometida. Não existe uma manifestação neurológica típica, porém alterações visuais, fraqueza nos membros, desequilíbrio, descoordenação, alterações de sensibilidade e distúrbios urinários são as queixas mais frequentes.

Os sintomas devem durar mais que 24h para serem considerados de origem neurológica. Os sintomas sensitivos, como perda da sensibilidade em determinada região do corpo, formigamentos, dor inexplicável, são os sintomas mais comuns, ocorrendo em 40% das pessoas com esse diagnóstico.

A neurite óptica é o segundo sintoma mais comum, ocasionando embaçamento visual, perda do brilho das cores, até perda visual, geralmente acompanhado de dor na movimentação ocular.

Sintomas motores e cerebelares também são comuns, podendo causar perda de força em algum membro ou múltiplos membros, dificuldade de andar, descoordenação motora e tonturas. Sintomas menos comuns, porém, não menos importantes incluem neuralgia do trigêmeo (dor e perda de sensibilidade na face), alterações urinárias, como dificuldade de urinar ou perda urinária involuntária, constipação ou escape fecal.Os pacientes podem apresentar também alterações cognitivas, que podem estar presentes desde estágios iniciais da doença, mas são mais frequentes e evidentes em estágios mais avançados.

A principal alteração é na atenção e na velocidade de processamento. Dificuldade de memorização pode ocorrer, porém geralmente em fases mais avançadas da alteração cognitiva.

A EM é uma patologia cujos sintomas podem confundir-se com os de outras doenças. Infelizmente, não existe ainda um exame específico que possa identificar a doença de forma direta.

Assim, seu diagnóstico baseia-se na análise em conjunto dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente, somado a análise criteriosa de exames laboratoriais e de imagem que auxiliarão o neurologista a afastar qualquer outra doença que possa justificar o quadro clínico em curso, para somente assim poder concluir o diagnóstico.

A EM é uma doença cujo diagnóstico é feito por exclusão. Assim, consegue-se uma melhor probabilidade de um diagnóstico correto.

O dia nacional de conscientização da doença é em 30 de agosto. Apesar de ainda não ter cura, existem tratamentos e o diagnóstico precoce é essencial para a promoção de qualidade de vida das pessoas que convivem com essa condição.

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