Com dois anos de pandemia, as idas ao cinema, as pequenas reuniões com os amigos e shows com máscara não são considerados tão perigosos para a saúde quanto antes da chegada da vacina. É como se a COVID-19 tivesse sido um pouco domada e parece natural que o Carnaval aconteça.

Mas para falar sobre essa possibilidade devemos voltar ao início da pandemia, em 2020, e analisar como os ambientes foram se modificando assim como nossa capacidade de entender os riscos.

O primeiro caso de COVID-19 confirmado no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, um dia após o fim do Carnaval daquele ano. Será que conseguimos avaliar quanto um evento nacional – nas proporções do Carnaval – contribuiu para o resultado da tragédia com mais de 600 mil mortes?

Naquele momento, não tínhamos dados para entender a pandemia e cancelar aquele Carnaval, mesmo sabendo dos desdobramentos em outros países e já tendo a informação que um fluxo de turistas vindos de outros países seria extremamente perigoso. Naquele momento essa não era uma decisão simples. 

Naquele momento era difícil entender tudo o que estava em risco. Mas como estamos hoje? O que temos para considerar ao nos engajarmos nas celebrações do Rei Momo? 

O cancelamento dos festejos é o mais prudente, assim como evitar aglomerações, lavar sempre as mãos e manter o uso de máscaras, uma vez que a transmissão mais efetiva do Sars-COV-2 é por vias respiratórias. 

A Ômicron, nova variação do COVID-19, assim como as variantes que ainda podem surgir na população exposta e contaminada, se mostrou motivo de grande preocupação para o mundo, uma vez que a taxa de propagação dessa variante é maior, infectando pessoas com mais facilidade. Precisamos ponderar também que os dados a respeito da eficácia das vacinas disponíveis em relação a contaminação e os desdobramentos dessa variante ainda são escassos, portanto, todo cuidado é recomendado no momento de decidir qualquer flexibilização para populações em ocasiões de festas e aglomerações. 

Fica parecendo repetitivo, mas o que tem sido recomendado desde o início da pandemia como o uso de máscaras, a higienização frequente das mãos, o distanciamento social e vacinação completa e em dia, é ainda válido. Se for realizar algum festejo, o mesmo deverá ser organizado com poucas pessoas, e se possível, do mesmo núcleo de convivência. 

Evolução no número de casos de COVID-19 no Brasil. Número por milhão de habitantes.

PLANEJANDO VIAGENS

Se sua opção para o período for realizar uma viagem, planeje bem todos os passos, respeitando com muito rigor as medidas sanitárias de contenção do vírus: com vacinação em dia, com testes para detecção do vírus negativos, com o uso de máscaras adequada, higienização frequente das mãos e mantendo o distanciamento social.

A possibilidade do aparecimento de novas variantes se dá sempre que expomos uma grande quantidade de pessoas ao contágio, fazendo o vírus circular.

Não podemos esquecer que mesmo indivíduos vacinados com até a dose de reforço, podem não ter complicações e agravos, mas não estão livres de disseminar o vírus, causando a ampliação da circulação e aparecimento de novas variantes, num círculo vicioso que aumenta o problema.

No Carnaval de 2021, todos estávamos assustados com o alto número de vítimas e foi talvez mais simples entender a lógica da suspensão da festa, mas nesse ano, com a população se achando protegida, mesmo tendo apenas uma alta percentagem com o esquema vacinal primário, (e sem a dose de reforço), com as taxas de óbitos menores, fica parecendo que podemos relaxar e brincar o Carnaval. Mas é preciso fazermos uma reflexão simples. 

VACINAÇÃO

Pessoas com o esquema vacinal primário completo, ou seja, com as duas doses e sem o reforço vacinal (terceira dose), se sentem protegidos e relaxam, mas se esquecem, que depois de um certo período, é a dose de reforço que realmente traz proteção.

Hoje, no Brasil, a população adulta totalmente vacinada com duas dose ultrapassa os 70%, mas ainda estamos com apenas 30% de pessoas com a dose de reforço. É justamente esse sentimento de proteção atribuído a quem tomou as duas doses que pode deixá-las suscetíveis à exposição sem critérios, fazendo delas um vetor de contaminação. 

Esse grupo com esquema vacinal primário completo, mesmo com sintomas leves, segue transmitindo o vírus, levando grupos de pessoas sem resposta imunológica ideal a sofrer as consequências mais críticas do vírus e até falecerem. Pessoas com câncer, que tomam remédios que comprometem a resposta imunológica, idosos, entre outros, podem não conseguir desenvolver adequada resposta imune à vacina. 

PESQUISA ENTRE PROFISSIONAIS

Pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira (AMB) em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM) sobre o atual momento da pandemia mostra que a linha de frente da assistência é duramente impactada pela variante Ômicron.

Com o recrudescimento do contágio em uma população com um sentimento de proteção não exatamente efetivo haverá o aumento de ocupação dos leitos de UTIs a níveis preocupantes, podendo deixar sem leitos disponíveis os indivíduos que necessitem por outros motivos que não a COVID-19

Nem precisamos falar que todas as cirurgias eletivas voltam a ficar suspensas e as equipes de saúde, ao se contaminarem, mesmo assintomáticas, deixam de trabalhar. 

Dos 3.517 profissionais de Medicina de todo Brasil que responderam ao questionário por meio do SurveyMonkey, entre os dias 21 e 31 de janeiro, 87,3% relatam que eles ou outros médicos do ambiente de trabalho foram acometidos pela doença nos últimos dois meses. Aliás, a maioria dos médicos se diz esgotada (51,1%) e apreensiva (51,6%). Eles nutrem a percepção de que os colegas de profissão dos locais em que atuam estão estressados (62,4%) e sobrecarregados (64,2%).

Então, mesmo sabendo do desejo intenso de celebrar a festa de Momo, o momento ainda pede afastamento. Siga no BLOCO DO EU SOZINHO, que em breve poderemos celebrar com mais segurança.

Aqui a lista de cidades e capitais que já cancelaram o Carnaval: https://bit.ly/3piS2Vp

Para emergências:        +55 21 3262-0100