De acordo com o Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (ReNaDe), estima-se que a incidência da síndrome demencial atinge entre 1,5 e 2,5 milhões brasileiros e, desse total, a maior parte das pessoas não é diagnosticada.

Isso é um problema grande pois se trata de uma doença de longa trajetória. Há relatos de portadores de demência com mais de 18 anos do diagnóstico. Para piorar o cenário, a assistência a pacientes diagnosticados com demência é de alto custo e de alta complexidade – em um levantamento realizado em 2018, estimou que US$ 1 trilhão foi destinado ao cuidado desses pacientes e que os familiares financiam os cuidados, principalmente mulheres, cuja saúde, educação e renda são colocados em risco. 

A demência, um grupo de distúrbios cerebrais que causam a perda de habilidades intelectuais e sociais é a causa mais comum do Mal de Alzheimer.

Essas reflexões levantadas na rede social pela médica Anelise Fonseca, que trabalha na gerontologia, cuidados paliativos e atenção domiciliar, são os motivos para o mês de fevereiro ganhar uma campanha em prol da conscientização sobre a doença: é o Fevereiro Roxo, que por seu caráter de alerta também produz informações a respeito da Lúpus e Fibromialgia.

Dra. Anelise afirma que o sistema de saúde não está equipado adequadamente para atender a alta e crescente demanda de pacientes diagnosticados. Nem nossa sociedade está preparada para o número enorme de pessoas portadoras da doença, que é um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, além do comprometimento progressivo das atividades de vida diária.

A doença de Alzheimer desafia médicos e cientistas. Por um lado, há esforços para identificar as causas da doença – a fim de buscar um tratamento precoce. Na outra ponta, especialistas buscam descrever o que ocorre em cada um dos estágios do Alzheimer para entender o comportamento da doença no corpo humano e apoiar pacientes e seus familiares.

Embora os pesquisadores já saibam que existe uma ligação entre a demência e fatores como isolamento social e obesidade, um estudo publicado na revista científica BML, com mais de 29 mil pessoas maiores de 60 anos, adiciona evidências substanciais de que existem hábitos associados a um menor risco de demência e a uma taxa mais lenta de declínio da memória, ajudando a retardar o avanço da doença.

     

      • Exercício físico: Fazer pelo menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana.

      • Dieta: Comer quantidades diárias adequadas de pelo menos sete dos 12 itens alimentares (frutas, legumes, peixe, carne, laticínios, sal, óleo, ovos, cereais, legumes, nozes e chá).

      • Álcool: Nunca bebeu ou bebeu ocasionalmente.

      • Tabagismo: Nunca ter fumado ou ser ex-fumante.

      • Atividade cognitiva: Exercitar o cérebro pelo menos duas vezes por semana (lendo e jogando cartas ou mah-jongg, por exemplo).

      • Contato social: Envolver-se com outras pessoas pelo menos duas vezes por semana (participando de reuniões da comunidade ou visitando amigos ou parentes, por exemplo).

    A perda de memória não é menos prejudicial por ser gradual, e o declínio da memória relacionado à idade pode, em alguns casos, ser um sintoma precoce de demência. Mas a boa notícia, dizem os pesquisadores, é que “pode ser revertido ou tornar-se estável, em vez de progredir para um estado patológico”. Quanto mais fatores de estilo de vida saudável você puder combinar, melhores serão suas chances de preservar sua memória e evitar a demência.

    RISCO MAIOR PARA MULHERES

    risco de demência é maior em mulheres do que em homens e a queda do estrogênio durante a menopausa é um dos possíveis fatores que aceleram o desenvolvimento da doença. Mas a terapia de reposição hormonal pode reduzir o risco de Alzheimer em mulheres que possuem o gene APOE4, ligado ao desenvolvimento da doença, mostra um outra pesquisa, feita a partir da observação de formulários e exames de mulheres com mais de 50 anos que iniciaram a reposição hormonal sem terem o diagnóstico de demência. É uma fase inicial, mas considerada promissora no sentido de buscar formas de prevenir a doença.

    ESTÁGIOS

    O primeiro sintoma, e o mais característico, é a perda de memória recente. Com a progressão da doença, vão aparecendo sintomas mais graves como, a perda de memória remota (ou seja, dos fatos mais antigos), bem como irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo.

    Os estágios da Doença de Alzheimer foram definidos pelo médico Barry Reisberg, diretor do programa de pesquisa e educação sobre a doença da Escola de Medicina da Universidade de Nova York. Essa divisão é usada por especialistas em todo o mundo, algumas vezes simplificada para cinco ou mesmo três estágios. 

    Estágio 1 – Nenhum sintoma de demência

    Independentemente da idade, qualquer pessoa pode ser mentalmente saudável. Eventuais lapsos de memória são considerados normais em todas as faixas etárias. À medida que envelhecemos é natural que esses lapsos aconteçam com mais frequência e não necessariamente indicam um problema mais grave.

    Estágio 2 – Perda de memória subjetiva/Esquecimentos relacionados à idade

    Muitas pessoas com mais de 65 anos reclamam de dificuldades cognitivas e/ou funcionais. Pessoas mais velhas com esses sintomas reclamam de não conseguir lembrar de nomes com a mesma facilidade com que faziam cinco ou dez anos antes. Eles também reclamam de frequentemente não conseguirem lembrar onde colocaram as coisas. Vários termos já foram sugeridos para definir essa condição, mas declínio cognitivo subjetivo é a terminologia mais aceita atualmente.

    Em geral, parentes e amigos não notam imediatamente esse problema. Mas pessoas com esses sintomas apresentam declínio mais rápido do que outras da mesma idade que não têm reclamações semelhantes. Pesquisas mostram que essa fase pode durar até 15 anos em pessoas que não apresentam outros sintomas.

    “A doença começa com o acúmulo de determinadas proteínas no cérebro e isso pode levar de 15 a 20 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas”, explica o médico Otelo Correa dos Santos Filho, da Universidade Estadual do Rio (Uerj), investigador principal da parte brasileira do estudo internacional Davos Alzheimer Collaborative. “Nesta fase pré-clínica não há sintomas, e a vida cotidiana não é afetada.”

    Estágio 3 – Impacto cognitivo leve

    Pessoas neste estágio manifestam déficits sutis, mas que já são notados por pessoas próximas. Elas tendem, por exemplo, a repetir a mesma pergunta várias vezes. Sua capacidade de executar algumas funções se torna comprometida. É comum entre os que ainda não se aposentaram apresentarem declínio da função profissional. Os que precisam aprender novas tarefas têm dificuldades evidentes. Para os que ocupam cargos estratégicos, pode ser o momento de começar a programar uma aposentadoria. Este já pode ser caracterizado como um estágio inicial de Alzheimer e pode durar cerca de sete anos. Ainda assim, é preciso buscar orientação médica e um diagnóstico especializado para entender até que ponto outras condições de saúde podem estar influenciando tais condições.

    Estágio 4 – Declínio cognitivo moderado/demência leve

    O diagnóstico de Alzheimer nesta fase pode ser feito com bastante acurácia. O déficit funcional mais comum nesta fase é o declínio na habilidade de executar tarefas mais complexas da vida cotidiana, com impacto em sua capacidade de viver de forma independente. Por exemplo, pode ser complicado lidar com contas mensais, pagar o aluguel, ir ao mercado fazer compras, escolher um prato num restaurante. Pessoas que costumavam cozinhar passam a ter dificuldades para preparar os alimentos.

    Sintomas de perda de memória se tornam bem evidentes neste estágio. Eventos recentes importantes como uma festa ou a visita de um parente podem ser esquecidos. Em geral, essa fase tem duração de cerca de dois anos.

    “As pessoas começam a ter alterações leves de memória, perdem um pouco a noção do tempo, apresentam dificuldades para manejar as finanças, fazer cálculos, mas o impacto nas atividades diárias ainda não é muito grande”, explica o especialista da Uerj.

    Estágio 5 – Declínio cognitivo moderadamente severo/demência moderada

    Neste estágio, as pessoas apresentam sintomas que as impedem de ter uma vida independente. A principal alteração funcional desta fase é a dificuldade de executar atividades básicas do dia-a-dia, como, por exemplo, escolher a roupa mais apropriada para as condições climáticas e a ocasião, se alimentar sozinho, pagar as contas, manter as condições de higiene da casa e das roupas. Elas podem apresentar ainda problemas comportamentais, como ataques de raiva e desconfiança.

    Do ponto de vista cognitivo, elas frequentemente não conseguem lembrar de grandes eventos ou aspectos importantes de sua vida cotidiana, como o seu próprio endereço, o nome do presidente da República e as condições do tempo. Este estágio tende a durar um ano e meio.

    “Nesta fase, o paciente começa a ter os chamados comportamentos atípicos, como sair na rua de pijama, colocar um paletó mas esquecer de vestir a camisa”, exemplifica o médico.

    Estágio 6 – Declínio cognitivo grave/demência moderada

    Nesta fase, os pacientes perdem a capacidade de se vestir, tomar banho, escovar os dentes ou ir ao banheiro sozinhos. Elas começam a confundir ou não identificar outras pessoas, mesmo as mais próximas. Não conseguem se lembrar do nome das escolas onde estudaram, dos principais líderes políticos do País. Em algum momento, elas começam a ter dificuldades para falar. Do ponto de vista comportamental, ataques de raiva podem ser frequentes. Esta fase pode durar de dois a três anos.

    “O paciente já é incapaz de realizar as atividades cotidianas básicas, já tem um comprometimento motor considerável e dificuldade para reconhecer as pessoas”, disse Otelo Correa dos Santos Filho. “Alucinação não é muito comum no Alzheimer, mas pode ocorrer nesta fase.”

    Estágio 7 – Declínio cognitivo muito grave/demência muito grave

    Nesta fase, os pacientes demandam assistência para atividades cotidianas básicas e para a própria sobrevivência. A capacidade de fala é cada vez mais restrita até ser completamente perdida. O paciente perde também a capacidade de andar sozinho e até de se sentar. A rigidez nas juntas é cada vez mais frequente, impedindo os movimentos mais básicos e levando a deformidades físicas. Uma causa comum de morte é pneumonia, justamente por conta da dificuldade de deglutição cada vez mais acentuada. Esta fase costuma durar de um a três anos.

    “É a fase mais grave e mais triste da doença, em que as pessoas apresentam demência grave, dependência completa para as atividades diárias e estão acamadas”, afirmou o especialista. “É a fase final da doença.”

    FEVEREIRO LARANJA

    Também foi escolhido o mês de fevereiro, com a cor laranja, para se conversar a respeito do combate à leucemia. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer, no período de 2020 a 2022, a previsão no Brasil é de mais de 10 mil casos de linfoma diagnosticados. A leucemia é um tipo de câncer que vai afetar a medula óssea, que é como uma fábrica do nosso sangue, e leva à produção de células doentes e falta de produção de células normais. Entre os sintomas estão fadiga, fraqueza, anemia, perda de peso e apetite, além de história recente de infecções, pneumonia, aftas na boca e hemorragias, como sangue após escovar os dentes. Não tem fator de risco, e, portanto, não há como prevenir, a não ser com a conscientização sobre o assunto.

    Para emergências:        +55 21 3262-0100